A aceleração dos investimentos da Petrobras se tornou tema de preocupação entre analistas após a divulgação do lucro de 2024, que teve queda de 70% em relação ao ano anterior. Os maiores aportes tiveram impacto direto nos dividendos distribuídos pela empresa.
Em 2024, a Petrobras investiu R$ 91 bilhões, alta de 31% em relação a 2023, o maior valor desde 2015. Em dólares, que é como a estatal costuma divulgar esse indicador, o investimento ficou 15% acima da projeção estabelecida para o ano.
Em teleconferência com analistas nesta quinta-feira (27), a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, disse que a empresa investiu mais para antecipar a produção de plataformas no campo de Búzios, que será o maior produtor da Petrobras a partir de 2025.
Internamente, críticos da gestão dizem que a mudança garante números favoráveis ao governo, que vê a estatal como indutora de investimentos, ao mesmo tempo em que reduz dividendos, que são calculados sobre o saldo entre a geração de caixa, os custos e os investimentos.
No mercado, ficaram dúvidas sobre a estratégia e seus impactos, tanto nos dividendos quanto do ponto de vista político. Em relatório divulgado nesta quinta-feira (27), analistas do Citi lembraram que a Petrobras vinha tendo dificuldades de cumprir suas metas de investimentos devido a desafios externos.
“Contudo, este ano, a Petrobras não apenas cumpriu, como ultrapassou a projeção. O que podemos esperar dos investimentos para 2025 e além?”, questionam.
Folha Mercado
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A Petrobras anunciou a distribuição de R$ 9,1 bilhões, elevando o valor aprovado no ano para R$ 75,8 bilhões. Em nota, disse que seguia sua política de remuneração e que o valor garante a sustentabilidade da companhia, apesar do prejuízo de R$ 17 bilhões no quarto trimestre.
A corretora Ativa destacou que o valor corresponde a R$ 0,71 por ação, bem abaixo do R$ 1,1 por ação que esperava.
“O menor saldo entre a geração de caixa operacional e os investimentos (que acabou resultando na distribuição de um dividendo regular menor que o esperado) trazem uma frustração aos números divulgados”, escreveram analistas da Ativa.
Para além dessa questão, há uma preocupação com a pressão do governo para que a companhia seja um motor de desenvolvimento da economia, como ocorreu em gestões petistas anteriores até a descoberta do esquema de corrupção investigado pela Operação Lava Jato.
“O acionista controlador da Petrobras tem sido claro sobre o uso da empresa para acelerar o crescimento do PIB”, escreveram nesta quinta analistas do Goldman Sachs, reiterando que ainda acreditam no poder da governança interna para barrar influências.
“Não vemos a decisão de antecipar investimentos negativa por si só”, escreveram os analistas. “Contudo, achamos que a redução da meta de investimento anunciada em agosto pareceu apressada e levou investidores a acreditar em maiores dividendos, o que acabou não ocorrendo.”
Nesta quinta, Magda disse que entende a frustração dos analistas com dividendos, mas o resultado da antecipação de investimentos será “óleo no bolso mais rápido”. “É o sonho de consumo de todo investidor em uma petrolífera”, afirmou.
“É óleo novo, de alto potencial de produção, num campo altamente rentável”, afirmou. A presidente reconheceu que a redução da projeção de investimento feita em agosto pode ter sido exagerada, mas defendeu que o aporte ficou ainda baixo da meta anterior, de US$ 16,5 bilhões (R$ 94 bilhões).
Magda afirmou ainda que não há antecipações de investimentos de grande magnitude magnitude previstas para 2025, mas que a Petrobras antecipará investimentos sempre que resultar em antecipação de receitas.
As preocupações do mercado são reforçadas por discursos repetidos tanto de Magda quanto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre o papel da estatal no desenvolvimento econômico do país.
A Petrobras patrocinou nas últimas semanas duas cerimônias para apresentar investimentos ao lado de Lula, que vem rodando o país em busca de melhorar sua popularidade —a pior de suas três gestões, segundo o Datafolha.
Nesses eventos, Magda tem prometido acelerar investimentos e apoiar a indústria nacional, um dos focos da visão desenvolvimentista de governos petistas para a estatal. No balanço divulgado nesta quarta-feira (26), ela reforçou o fato de que os aportes da Petrobras representam 5% dos investimentos do Brasil.
Ele voltou a defender, porém, que a companhia só investe em projetos considerados rentáveis. “Em 2024, entregamos um retorno total ao acionista da ordem de 20%, considerando a valorização da ação e o pagamento de dividendos”, afirmou a executiva.