Depois de arrematar rodovias em São Paulo e no Paraná no ano passado, a CCR se prepara para voltar a participar dos certames de concessões federais e estaduais em 2025 e mira, sobretudo, estradas do centro-sul brasileiro.
Em entrevista à Folha, o presidente da CCR Rodovias, Eduardo Camargo, disse que a companhia tem quatro estados como prioridade: Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio Grande do Sul e São Paulo. Entre os projetos visados pela CCR para este ano estão os certames de lotes das Rodovias Integradas do Paraná e o leilão de uma nova parte da rodovia Raposo Tavares (SP-270) no interior de São Paulo.
Batizado de Lote Paranapanema, o trecho da estrada paulista liga os municípios de Itapetininga e Ourinhos, no interior do estado, e abrange rodovias que hoje estão sob administração do DER-SP (Departamento de Estradas de Rodagem de São Paulo). O leilão está previsto para o terceiro trimestre deste ano.
No ano passado, o Governo de São Paulo leiloou dois projetos que abrangiam estradas que hoje são administradas pela CCR ViaOeste, cujo contrato termina neste ano. As rodovias foram divididas em duas novas concessões: a Rota Sorocabana e a Nova Raposo –ambas com trechos da Raposo Tavares.
No fim de outubro, a CCR arrematou a Rota Sorocabana ao oferecer um lance de R$ 1,601 bilhão em uma disputa acirrada com a EcoRodovias.
Um mês depois, porém, a EcoRodovias levou a melhor e superou a concorrente no leilão que concedeu a Nova Raposo, com uma outorga vencedora de R$ 2,19 bilhões. A CCR havia oferecido R$ 1,04 bilhão pela concessão.
“Nós fizemos uma proposta que entendíamos ser em um limite razoável de preço a ser pago pelo ativo. Quando a gente ganha a [Rota] Sorocabana e o lote 3 [das Rodovias Integradas] do Paraná, a gente consegue mais do que recompor o que estamos perdendo da ViaOeste”, diz Eduardo Camargo à reportagem.
Folha Mercado
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O lote 3 das Rodovias Integradas do Paraná foi arrematado pela CCR em dezembro, depois que a companhia ofereceu desconto de 26,6% sobre a tarifa básica de pedágio em leilão realizado na B3.
O certame foi feito pela ANTT e pela gestão Lula junto ao governo do Paraná e seguiu as regras dos leilões de concessões federais. Nesse caso, o vencedor não é o proponente com maior lance de outorga (como acontece nos leilões realizados pelo Governo de São Paulo, por exemplo), mas sim a companhia que oferece o maior desconto sobre a tarifa de pedágio.
O pagamento de aporte (caução) é necessário somente quando o corte na tarifa prometido é superior a 18%. Depois desse patamar há a incidência de investimento de recursos para cada 1% de deságio apresentado, de forma cumulativa. Os recursos do aporte são direcionados à conta da concessão para que sejam utilizados, por exemplo, na execução de obras não previstas.
Com prazo de contrato de 30 anos, o lote 3 do Paraná prevê mais de R$ 9,8 bilhões de investimentos em obras de infraestrutura. O traçado previsto na concessão engloba trechos federais (BR-369, 373 e 376) e estaduais (PR-170, 323, 445 e 090).
O lote 3 do Paraná e a Rota Sorocabana foram as únicas concessões arrematadas pela CCR em 2024. Até então, a companhia vinha fazendo uma participação tímida nos certames, sem vitórias.
Para este ano, o governo federal prevê os certames dos lotes 4 e 5 das Rodovias Integradas do Paraná. Juntas, as duas concessões reúnem mais de 1.000 km de estradas federais e estaduais.
Segundo Camargo, a escalada na Selic, a taxa básica de juros, não afeta os investimentos já previstos pela companhia.
“Os financiamentos para esses dois novos investimentos, tanto Sorocabana quanto o da PRVias [concessionária do lote 3 do Paraná], a gente já assegurou. A gente conseguiu contratá-los inclusive com um spread [bancário, diferença entre o custo de captação dos bancos e a taxa final cobrada do cliente] mais baixo do que a gente previa. Os juros estão equacionados nos primeiros anos dos projetos.”
Ele afirma, porém, que daqui para frente a empresa terá que “olhar novos investimentos com mais atenção” e precificar a curva de juros para a participação em novos leilões.
No fim de janeiro, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central elevou a Selic em um ponto percentual, de 12,25% para 13,25% ao ano. No comunicado, o comitê reafirmou a sinalização de que pretende fazer mais uma alta da mesma intensidade na próxima reunião, em março.
No setor de infraestrutura, a alta nos juros torna os financiamentos mais custosos, o que pode atrapalhar a captação de recursos para a execução das obras previstas nos projetos.
A CCR prevê investir, em 2025, R$ 510 milhões na Rota Sorocabana, R$ 455 milhões na CCR PRVias e R$ 1,66 bilhão na CCR RioSP, responsável por administrar a rodovia Rio-Santos.
‘PEDÁGIO FREE FLOW VEIO PARA FICAR’
Para Camargo, a tecnologia de pedágio free flow vem evoluindo com o passar dos anos. A CCR utiliza a ferramenta na rodovia Rio-Santos em trechos localizados em cidades fluminenses.
No modelo, a cobrança é feita pelos pórticos, que substituem as praças de pedágio e são equipados com tecnologia para identificar os veículos.
De acordo com o executivo, a taxa de inadimplência caiu de um patamar acima de 12%, no começo da operação do free flow, para cerca de 6%, o que já viabiliza a operação, segundo ele.
Camargo atribui a queda na inadimplência ao aumento na divulgação sobre o free flow. “O que falta agora é a fiscalização efetiva.”
“Eu acho que o cliente vai se adaptando à tecnologia. Mas é um modelo que veio para ficar”, diz.
RAIO-X | CCR
Principais concorrentes: EPR, EcoRodovias, Via Appia, entre outros
Orçamento para rodovias em 2025: R$ 5,05 bilhões
Lucro líquido ajustado: R$ 1,78 bilhão (2024)
Veículos equivalentes* em rodovias: 1,22 bilhão (2024)
*Veículos equivalentes é a medida calculada, adicionando-se aos veículos leves, os veículos pesados (comerciais como caminhões e ônibus) multiplicados pelos respectivos números de eixos cobrados. Um veículo leve equivale a um eixo de veículo pesado