O Banco do Nordeste concedeu R$ 550 milhões em crédito para viabilizar a saída do Bolsa Família de 60 mil beneficiários do programa —isso representa 1% do total. No entanto, esse grupo, interessado em melhorar de vida, aderiu em seis meses.
“Podemos fazer muito mais”, disse em entrevista ao Painel S.A. o presidente do banco, Paulo Câmara.
Segundo ele, a instituição é a única a atender os beneficiários que, há pouco mais de seis meses, passaram a contar com linhas do programa Acredita Primeiro Passo, que tem sido “um laboratório de política pública que pode funcionar como uma porta de saída do Bolsa Família”.
Foi meio bilhão em seis meses. Vai ter dinheiro para tanta demanda?
Estamos em negociações com o banco KfW para levantar 200 mil euros e podermos chegar perto de R$ 2 bilhões para o programa. Foram R$ 550 milhões no ano passado, mas em um semestre, porque o programa começou em julho. Queremos pelo menos dobrar [neste ano].
Uma das críticas ao Bolsa Família é de que o assistencialismo impede o beneficiário de sair do programa, especialmente no Nordeste. Isso compromete o Acelera?
Ao contrário. Os beneficiários querem uma complementação de renda, querem empreender, mas dentro de uma logística que facilite sua vida perto de casa, ou até mesmo na casa. Estamos vendo muita abrangência desse programa dentro das próprias comunidades, onde as pessoas moram e montam um pequeno negócio.
É balela que o beneficiário do Bolsa Família não quer sair do programa?
Com certeza. Vemos que o Acredita tem muita adesão. O Brasil tem condições de mais recursos para justamente dar mais opções. Porque as pessoas estão na verdade atrás de dinheiro mais barato. Conseguimos oferecer algo em torno de 8,9% ao ano de juros. Isso é uma atratividade.
As taxas são bem abaixo da Selic.
Sim. E é um crédito com orientação, que é o diferencial do programa. Colocamos nossos agentes para orientar as pessoas a aplicarem bem esse recurso.
Qual o valor máximo do crédito no Acelera Primeiro Passo?
Vai até R$ 21 mil. Foram 60 mil operações para os beneficiários do Bolsa Família no Nordeste feitas apenas pelo BNB. Desse total, só 15 estão em atraso. É um negócio impressionante.
Os brasileiros contemplados no programa já são geradores de emprego?
Às vezes sim, porque alguns têm assistentes e uma logística, embora bem pequena.
O senhor acha que esse é o caminho para o governo usar o empreendedorismo como política social?
O governo tem uma preocupação muito grande com isso, um olhar de que o microcrédito e o apoio às micro e pequenas empresas são fundamentais. O programa Acredita foi pensado para isso. Agora, deve-se ter o cuidado, como em qualquer política pública, de mostrar uma porta de saída mais na frente. Queremos que essas pessoas, que estão no microcrédito hoje, se formalizem, passem a ser MEI, sejam micro e pequenas empresas e possam continuar a crescer.
Como o BNB está levantando recursos para financiar essa saída do Bolsa Família?
Fizemos uma discussão com o governo federal e solicitamos um aumento do volume de recursos a ser disponibilizado do FNDE [Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação] para o microcrédito e as pequenas empresas, que antes representavam 51% de tudo o que o banco utilizava e agora passou para 62%. Evidentemente, houve uma diminuição de crédito para o médio e o grande. Antes, ambos tinham 49% dos recursos do fundo e passaram a 38%.
E isso foi positivo para o BNB?
A gente conseguiu impulsionar todos os segmentos do banco e ainda atingimos valor recorde de R$ 61 bilhões de contratação, que representa 40% em relação ao que se contratou entre 2019 e 2022. A média histórica do fundo constitucional era em torno de R$ 30 bilhões na era Bolsonaro. Entre 2023 e 2024, já passamos para R$ 44 bilhões.
Mas e os desembolsos?
Estamos tendo retorno, porque a inadimplência do banco diminuiu. Tivemos a menor inadimplência da nossa história, com 1,8%, tirando 2020, que não dá para colocarmos na conta por causa da pandemia, que prorrogou todos os dados. Além disso, estamos fazendo muita operação em parceria com o BNDES, algo que não ocorria antes. Em 2024, voltamos a operar com a Finep, principalmente na parte de inovação no Nordeste. E firmamos parcerias com organismos internacionais, como BID e o banco dos Brics. São fundos com uma taxa de juros menor.
RAIO-X
Paulo Câmara, 52
Assumiu a presidência do BNB em março de 2023. Graduado em Ciências Econômicas, pós-graduado em Contabilidade e Controladoria Governamental e mestre em Gestão Pública para o Desenvolvimento do Nordeste pela Universidade Federal de Pernambuco. É auditor do Tribunal de Contas do Estado desde 1995. Atuou como Secretário de Administração, Secretário de Turismo e Secretário da Fazenda de Pernambuco, entre 2007 e 2014. Foi governador do estado de 2015 a 2022.
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