Brasil deve investir US$ 6 tri para descarbonização – 20/02/2025 – Mercado

Brasil deve investir US$ 6 tri para descarbonização – 20/02/2025 – Mercado

O Brasil, que já possui um dos setores de energia mais limpos do Grupo dos 20, precisará investir US$ 6 trilhões (cerca de R$ 33,6 trilhões) de agora até 2050 para acelerar a descarbonização em toda a sua economia.

Esta é a última avaliação da BloombergNEF, que conclui que as emissões de energia do Brasil devem cair 14% até 2030, em comparação com os níveis de 2023, e diminuir 70% uma década depois para estar no caminho para emissões líquidas zero.

Em seu relatório New Energy Outlook, a BNEF afirma que o Brasil precisará investir mais em tecnologias de redução de emissões, como captura e armazenamento de carbono, mas seu maior desafio de descarbonização será eletrificar o transporte, que atualmente representa mais da metade das emissões do setor energético do país.

A análise surge enquanto o Brasil se prepara para sediar a conferência anual das Nações Unidas sobre o clima, conhecida como COP30, ainda neste ano. Os países na cúpula serão convidados a demonstrar seu compromisso contínuo com o histórico Acordo de Paris, que promete manter o aquecimento global bem abaixo de 2°C, e idealmente 1,5°C, em relação aos níveis pré-industriais.

Para alcançar suas ambições climáticas, o Brasil precisará mostrar que está enfrentando o desmatamento e as emissões da agricultura, além de abordar questões de transição energética, de acordo com a BNEF. Ainda assim, a análise dos setores de energia, transporte, indústria e edifícios do Brasil não vê um cenário em que o país se alinhe com 1,5°C.

Na melhor das hipóteses, o Brasil será consistente com 1,75°C de aquecimento até 2100 se descarbonizar totalmente sua economia até meados do século, disse o relatório. Isso sobe para 2,6°C em um cenário base, assumindo que não há suporte político extra para a transição, e o desenvolvimento econômico é baseado na tecnologia mais barata disponível.

Aqui estão cinco principais conclusões do relatório.

SOLAR E EÓLICA SÃO O FUTURO

O Brasil tem sido um pioneiro em energia hidrelétrica, instalando mais de 100 gigawatts de capacidade desde a década de 1960. Mas é improvável que isso continue. Suas mega barragens têm enfrentado problemas, incluindo danos ambientais e paralisações quando os níveis dos rios estão baixos. Agora é a vez da energia eólica e solar assumirem o manto. Ambas devem crescer significativamente em um cenário de emissões líquidas zero ou base.

ENERGIA EÓLICA E SOLAR SUPERAM A HIDRELÉTRICA ATÉ 2050

Cerca de 90% da geração de eletricidade do Brasil em 2024 veio de fontes renováveis. Esse setor está prestes a crescer, em grande parte porque é barato expandir a energia eólica e solar. Ambas devem superar o fornecimento de energia hidrelétrica até 2050.

“O Brasil constrói muita energia solar e muita energia eólica, não apenas porque está preocupado com emissões líquidas zero, mas porque é mais barato do que construir gás”, disse Vinicius Nunes, associado de pesquisa da BNEF e autor do relatório.

“O gás não é barato no Brasil, o petróleo não é barato no Brasil, mas a energia solar e eólica são as fontes de eletricidade mais baratas. Então, mesmo que você não esteja visando emissões líquidas zero, economicamente faz sentido construir renováveis.”

Embora o setor de energia do Brasil esteja quase totalmente descarbonizado, os combustíveis fósseis ainda são amplamente utilizados em outros setores, como transporte e indústria.

“Os brasileiros tendem a pensar que, porque o setor de energia já está descarbonizado, você não tem muitas emissões de energia. Mas esse não é o caso”, disse Nunes.

“Metade do consumo final de energia do Brasil ainda é de combustíveis fósseis. Portanto, enfrentar as emissões no setor de energia ainda é uma grande questão para o Brasil.”

A DESCARBONIZAÇÃO DO BRASIL DEPENDE FORTEMENTE DA AGRICULTURA

Também no radar das emissões do Brasil: os milhares de hectares de terras agrícolas do país e sua floresta amazônica, um dos sumidouros de carbono mais importantes do mundo. Não há caminho para emissões líquidas zero sem enfrentar as emissões agrícolas e o desmatamento. Ao observar as emissões totais de gases de efeito estufa do Brasil, a agricultura e a mudança no uso da terra juntas representam 63%.

CARVÃO, PETRÓLEO E GÁS JÁ ATINGIRAM O PICO

No Brasil, o uso dos três combustíveis fósseis já atingiu o pico em um cenário de emissões líquidas zero ou base, disse o relatório. Mas os combustíveis fósseis ainda devem fazer parte do cenário em 2050, independentemente.

As trajetórias futuras dos três tipos de combustível parecem bastante diferentes. Para o gás, em um cenário base, a demanda cairá e depois aumentará novamente à medida que os setores industriais que atualmente dependem de petróleo e carvão mudem.

Para um plano alinhado com as metas de emissões líquidas zero, o petróleo cai para perto de zero até 2050, à medida que a eletrificação avança de forma significativa. Para o carvão, não há uma maneira econômica para indústrias como a produção de aço e alumínio se afastarem do combustível no curto prazo, causando um platô em um cenário base. A demanda do setor de energia por carvão, por sua vez, cai rapidamente devido à energia renovável barata.

Nunes disse que o risco político para a descarbonização energética é relativamente baixo e uma reação ao estilo dos EUA sob o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, ou um futuro líder, é improvável. Mesmo sob o antecessor de Lula, Jair Bolsonaro, que não era um líder voltado para o clima, a indústria de energia renovável sofreu pouco. “É uma indústria economicamente boa para o país. Então, não há tanta resistência no Brasil por causa disso”, disse Nunes.

VEÍCULOS ELÉTRICOS LIMPARÃO MUITAS EMISSÕES

Como o setor de energia já está tão avançado, o transporte rodoviário apresenta o desafio mais significativo para a descarbonização. “Este setor no Brasil é o que precisa reduzir as emissões mais rapidamente para que o Brasil esteja no caminho para emissões líquidas zero”, disse Nunes.

Os biocombustíveis são usados muito mais amplamente no Brasil do que na maioria dos outros países. Um programa iniciado após a crise do petróleo de 1973 criou uma indústria doméstica de etanol, e a maioria dos carros no país agora pode funcionar com gasolina, etanol ou uma mistura. O Brasil é o segundo maior exportador de etanol do mundo.

Mas, nos próximos 20 anos, espera-se que a eletrificação se torne cada vez mais dominante para carros de passageiros, em grande parte devido ao preço. Os veículos elétricos a bateria representaram apenas 1% das vendas no Brasil em 2023 e esse número saltará para 59% até 2040, mesmo em um cenário base, de acordo com a BNEF.

Ainda assim, espera-se que a indústria de biocombustíveis continue crescendo para atender à demanda em outros setores que não podem ser facilmente eletrificados, particularmente combustível para transporte marítimo e aviação.

O Brasil provavelmente se tornará um grande exportador de biocombustíveis para regiões como a Europa, que têm mandatos rigorosos para alternativas aos combustíveis fósseis na aviação, mas pouca capacidade para produzir isso por conta própria.

EMISSÕES LÍQUIDAS ZERO SÃO APENAS UM POUCO MAIS CARAS

No geral, o cenário de emissões líquidas zero da BNEF custa apenas cerca de 8% a mais do que os métodos mais baratos para desenvolver a economia de 2024 a 2050. A política e a intervenção de mercado necessárias para tecnologias como captura e armazenamento de carbono e combustível de aviação sustentável representam alguns dos requisitos de investimento extra.

A análise do cenário base não leva em conta os custos operacionais de um sistema baseado em combustíveis fósseis, apenas o investimento em capital. Também não calcula as despesas extras para adaptação em um mundo de 2,6°C em comparação com um mundo de 1,75°C, o que tornaria o investimento em ação climática ainda mais valioso, disse o relatório —significando que em breve pode ser mais barato para o Brasil fazer a transição para uma economia de emissões líquidas zero do que não fazê-lo, disse Nunes.

“Se você está construindo muito mais renováveis, você não está construindo tantos combustíveis fósseis”, ele disse. “Então uma coisa compensa a outra.”

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